Tenho encontrado certa dificuldade para me concentrar. Embora a newsletter e algumas outras atividades criativas sejam ações voluntárias, percebo uma certa dilatação no tempo dos meus processos. É como se, ao ocupar este não-lugar, meu corpo e minha mente exigissem de mim mais tempo de silêncio do que antigamente, mais tempo de desconexão com o mundo virtual, mais tempo de solidão.
E a consequência disso é que está ficando cada vez mais difícil ter tempo e ânimo para atividades corriqueiras, como ter uma conversa com uma amiga no telefone, ou desenvolver um novo projeto com uma outra amiga, responder e-mails, grupos de whatsapp… Ainda que minha consciência saiba que no fundo há mais tempo do que antes, na prática faço um esforço enorme para conciliar pequenas ações cotidianas com meus procedimentos criativos.
A verdade é que eu me sinto cansada, muito cansada. Acredito que não seja só eu.
Hoje identifico essa exaustão, pra além do motivo óbvio, no excesso de informação que insisto em absorver todos os dias. Às vezes parece que estou encurralando meu cérebro. Meu cansaço mental faz com que as palavras fujam de mim e me pego tendo que ler mais de uma vez o trecho de um livro para captar a ideia completa. Será uma das consequências pandêmicas?
(Eu comecei a me perder nos meus 'quereres’…)
Li num artigo dias desses que o nome para o que estamos vivendo é definhamento. Essa palavra é horrível, mas eu entendo, concordo. O dia começa ‘bem’ e parece que vai embaçando, meu corpo se arrasta de um cômodo para o outro e meus desejos ficam confusos, querem escapar de mim, começam a escorrer entre meus dedos e eu tento segurá-los; transfiro todos eles da palma de uma mão para a outra e, num último gesto de esforço, assopro-os no ar, como uma bolha de sabão que, de tão frágil, talvez exploda a qualquer momento…
“Ontem eu tinha tanta convicção; hoje ela se foi.”
[ Virginia Woolf_ Diários, 02 de novembro de 1929.]
Esse estado desordenado em que me encontro é comparável ao estado de ‘apaixonamento’. Porque o desejo existe, ele ainda está aqui. E digo mais, são muitos desejos! Mas parece que para materializá-los eu preciso me cegar diante da realidade.
Como se apaixonar diariamente pela vida se ela não nos dá mais nenhuma garantia? (eu sei que nunca tivemos, mas gostaria de fazer como antes quando eu pelo menos podia fingir que tinha).
“A vida sem ilusão é algo terrível.”
{Virginia Woolf}
Ouvi num curso online outro dia