eu tenho um rascunho com o tema 'diversão' pra essa edição, ele acaba de ser descartado pra dar lugar ao que venho dizer agora. pra variar um pouco as coisas por aqui eu vou escrever o que estou sentindo neste exato momento (são 21h13 de um sábado, 7 de agosto). geralmente eu vou juntando material durante os dias pra depois conectar uma coisa na outra, mas esta noite eu sinto que preciso apenas soltar o que tenho dentro de mim num fluxo de consciência aparentemente irresponsável, mas espontâneo, portanto muito mais vivo.
hoje foi um daqueles dias em que eu quase fui pega pela minha paranoia do momento. pra isso não acontecer, eu fiz um corte: fui tomar um banho e depois um sol.
meus trabalhos estão voltando e cresce em mim (de novo) uma crise na relação que eu tenho com essa cidade (Sp). tenho a sensação de que ela dificulta, ou melhor, não facilita o meu caminhar, meus deslocamentos. impressionante como Sp faz eu me sentir impotente. me deixa por diversas vezes imóvel e, por isso (sei que não somente por isso) salta em mim a cada tanto um desejo incontrolável de ir embora. também acho graça de mim mesma, da minha ingenuidade em pensar que existe um lugar que me fará feliz, que me completará. não existe, eu sei, no entanto não deixo de estar atenta aos territórios ainda não vivenciados e fico no aguardo de seus chamados.
me movo acima das montanhas como se neste ato eu também pudesse mover meus próprios pedaços de terra internos. são montinhos, pedras que, durante o trajeto aéreo eu tenho a oportunidade de rever. reviso em que saquinho eu as coloquei, qual o nome que dei pra cada um deles, para cada seleção de pedras, eu esvazio alguns e troco de lugar outros. tudo isso enquanto o sol se despede. enquanto o céu, com sua dança luminosa, marca o tempo das coisas. o tempo em que tudo se revelará e também em que tudo acabará. o início e o fim das coisas. eu assisto tudo isso neste entre-lugar, que também, como tudo, tem nome: assento x, fileira blablabla, é apenas o assento de um avião.
junto com a tal da paranoia eu sinto que estou cheia de energia contida, vontades. vontade de abraçar, de dançar, de viajar. tenho tanta coisa guardada dentro de mim (tanto amor), mas parece que não posso fazer uso disso em sua potência máxima. tudo pela metade. o que acontece com o que sobra? sentimentos que não têm pra onde ir. e no que será que isso se transformará? num vazio? angústia? carência? também reflito sobre o ato desesperador de depositar tudo numa coisa só, geralmente num trabalho ou nas pessoas que estão mais próximas.
será que estou cheia de restos dentro de mim, sementes que não puderam florescer? pequenas mortes. vejo minha terra interna cheia de buracos que eu quero encher de qualquer coisa que se sinta!
‘Socorro, alguma alma, mesmo que penada
Me empreste suas penas Já não sinto amor nem dor Já não sinto nada
Socorro, alguém me dê um coração
Que esse já não bate nem apanha
Por favor, uma emoção pequena
Qualquer coisa
Qualquer coisa que se sinta.’
hoje, mais uma vez, voltei sozinha pra casa. e foi neste caminho que eu tive