"(…) Descer às profundezas significa ser privado da costumeira orientação diurna. Nessa condição, descrita em algumas culturas primitivas como "perda da alma", só podemos ser guiados e finalmente salvos por intermédio do conhecimento instintivo. Somos atirados de volta à sabedoria primitiva do corpo. Como "o melhor amigo do homem", o cão simboliza a sabedoria instintiva de forma simpática ao homem. A idéia de que o homem e o cão têm uma empatia inconsciente é antiga. Recorda-se que, na Odisséia, o cachorro de Ulisses, Argos, foi o único ser terreno que reconheceu o herói quando este voltou para casa, depois de longa viagem. Embora Ulisses se apresentasse disfarçado e muito mais velho, o focinho aguçado do cachorro farejou a verdadeira essência do amo. O cão não pode ser enganado por uma persona superposta. Fariscando tudo o que não pertence às nossas naturezas, mantém-nos fiéis a nós mesmos e nós, por nosso turno, damos um novo significado à sua "vida de cachorro".
[Livro: Jung e o Tarô, uma jornada arquetípica, página 309.]
Começo essa edição com esse trecho potente do capítulo sobre a carta da Lua, no Tarô de Marselha. Esse livro analisa, a partir da perspectiva Junguiana, todas as cartas do tarô, pois cada carta é um Universo, cheio de componentes que nos guiam para interpretá-las. Esse excerto, no caso, fala um pouco sobre a simbologia dos cachorros, um dos elementos presentes na ilustração da carta de número 18, The Moon:
Por conta do Eclipse ocorrido no dia 26/05, a Lua foi protagonista de muitas postagens na internet, mas a que mais me chamou a atenção foi o post da @luzeira.astrologia, em que ela explica, sem qualquer romantismo, o que realmente significa um Eclipse:
- Eclipses são um símbolo simples de interpretar: a luz do mundo se apagando por alguns instantes. -
E.clip.sar (verbo intransitivo)
1. Interceptar a luz de (um astro).
2. [Figurado] Tirar a vista a.
3. Ofuscar.
4. Deixar em plano muito inferior.
5. Tornar invisível.
6. [Figurado] desaparecer.
Você já desejou fugir?
Eu sempre tive esse tipo de ímpeto. Hoje mais do que nunca, claro. Mas e quando esse desejo não pode ser realizado? Imagine que você não tem pra onde ir, que você sente que está vivendo entre mundos, numa terra de ninguém e não pode partir. Essa é a minha sensação na quarentena (e acho que não só minha). Esse show de horrores em que vivemos parece não ter uma porta de saída de emergência aparente, talvez para alguns poucos privilegiados. E eu carreguei comigo, até pouco tempo, uma certa ingenuidade ao pensar que essa angústia instaurada em mim se resolveria se eu apenas pudesse ter um canto exclusivamente meu, o meu espaço, a minha casa. Mas hoje, um pouco na marra, eu estou tratando de entender definitivamente que, independente de estar 'quarentenada' ou não, ou seja, mesmo quando tudo isso acabar e eu tiver meu próprio lar, a minha casa sou eu.
“Tu podes ir e ainda que se mova o trem, tu não te moves ti”.
[Hilda Hilst]
Vejamos,