Neste exato momento era para eu estar em outro lugar, um país distante, caminhando sozinha por bairros desconhecidos, provando comidas diferentes (aquele prazer único que é o de sentir um sabor novo na boca), conhecendo pessoas que falam uma língua diferente da minha, uma língua que eu treinei vendo séries e filmes. Neste exato momento lá já é sábado, meio que acabou de virar sábado. São quatro horas de diferença. Se eu estivesse lá agora, talvez eu estivesse voltando pro meu airbnb, depois de uma noite incrível. Eu imagino que eu estaria agasalhada, lá faz treze graus agora. Numa versão mais romantizada, neste exato momento talvez eu estivesse indo pra casa de alguém que eu conheci por lá e nós estaríamos bêbados e entregues, vivendo o date com muita intensidade, nos sentindo bem porque sabemos que moramos em lugares distantes e que isso é a garantia de que podemos nos entregar sem medo de futuras cobranças. Ou não. Talvez eu estivesse agora numa festa sozinha, sem conhecer ninguém e, de repente, eu começasse a fazer várias novas amizades e eu dançaria até seis da manhã, como faz tempo que não faço. Ou, na versão que sempre imaginei:
neste exato momento, eu estaria na janela do quarto, com uma brisa fresca no rosto, levando meus cabelos para trás, trazendo alívio pro meu pescoço, eu estaria fascinada, hipnotizada, olhando diretamente para um vulcão adormecido. Esperando ter a sorte de testemunhar sua erupção. O interior da Terra se abrindo diante dos meus olhos e eu podendo usar com total propriedade esta metáfora visual para me permitir também expelir o que está guardado dentro de mim, as dores causadas, as frustrações, aquilo que queima dentro e que não há terapia, academia, dinheiro, amor próprio, blablabla, que consiga arrancar de dentro, todas as cinzas daquilo que eu quis tanto e que não se concretizou, do que começou e virou pó. O que a gente faz com aquilo que não aconteceu? Com aquilo que quase aconteceu? A gente entende como um sinal? A gente insiste, corre atrás até fazer valer? Pois bem, era sobre isso o que eu queria falar na edição de março. E, ironicamente, nem o próprio post conseguiu se concretizar. Chego por aqui atrasada para março e, de maneira precoce para a edição de abril. O tempo das coisas. O tem po das c o i s a s, Mayara! Será que algum dia eu vou conseguir esperar, sem sofrer, por aquilo que já sei que quero? O tempo das pessoas. O tem po das p e s s o a s. É como se eu já soubesse qual estrada quero ir, mas ela ainda não tivesse sido construída. Sinto como se eu fosse uma vidente de mim mesma, ou melhor, sinto como se eu estivesse à frente do meu próprio tempo. Então que eu sempre quis