No imediato instante em que vi essa cena de um programa que adoro me senti identificada. Caminhar lado a lado com alguém é a metáfora mais simples e acessível sobre um dos significados da palavra amor ou da minha noção de parceria. Passear, olhar o mundo de fora de mãos dadas com alguém que mora dentro. Soltar as mãos e ver o outro ir um pouco mais à frente, interessado em algo que sua vista ainda não alcança. Mudar a rota juntos. Oferecer um beijo no meio do caminho. Prever a chuva que chega e combinar de seguir juntos ainda assim. Sentir subir o calor do corpo e as pernas já cansadas. Mas seguir! A respiração ofegante. O abraço apertado. Suar junto. Observar junto. Rir de algumas pessoas que passam. Sentir o chão do mundo sustentar dois corpos num trajeto meio sem destino, meio que até a sorveteria, meio que até a padaria, o mercadinho, a feira… Sou entusiasta dos ‘simple pleasures’, devo admitir. Às vezes me sinto de outra época. No entanto não desisto de estar atenta nas parcerias que acompanhem essa minha ambição de vida. A de estar com uma pessoa, principalmente, para não se fazer nada. Me muno de companhias que não me cobram ter uma postura diferente da de, simplesmente, a de poder ser eu.
E eu acho que amo esse tipo de lazer das coisas simples porque é justamente ali em que me encontro no estado mais próximo de ser eu mesma. Passando um café pra alguém que eu gosto eu não preciso dissimular. O gesto amoroso nasce naturalmente porque o café é só uma desculpa ou parte da celebração da alegria de se sentir junto com alguém. Estar junto no presencial. Hoje isso é muito!
“Amor será dar de presente ao outro a própria solidão? Pois é a última coisa que se pode dar de si.”
[Clarice Lispector]
São tantos os apartamentos preenchidos por uma única pessoa. Um prédio inteiro e suas divisões, pequenos espaços com um único ser humano, que sustenta sua solitude, claro, parabéns, mas poxa e de que adianta estar aqui sem conexões reais? Sei da importância e da força que tem a gente saber ser a nossa própria companhia. Sei da paz que traz não ter que dar satisfação ou não ter que pedir atenção, não temer que o outro se esqueça de você durante o dia. Mas não acredito num mundo em que cada um está no seu pequeno metro quadrado vivendo sua vida e pagando suas contas. Não acredito porque é na relação com o outro que se aprende, é no espelho, nas projeções, no risco de ver sua falta ali naquele outro ser humano! Descobrimos camadas de nós muito mais difíceis de se revelar quando estamos sós. A relação nos desafia porque é um reflexo mais imediato, ela faz com que possamos enxergar nossa profundidade, aquela parte de nós que até então a gente fazia de tudo pra negar que existia.
É corajoso demais se relacionar.